Dia das mulheres: Um dia para pensarmos diferente
Nesta data é muito comum ver diferentes comemorações sobre o dia da mulher. Hoje, quero convidar você para algumas reflexões e, quem sabe assim, você possa pensar algo novo sobre essa data, oficializada pelas Nações Unidas em 1977 para lembrar das conquistas e pautas políticas e sociais das mulheres.
Começo contando sobre minha história, que começa desde pequena, já que minha família toda sempre foi parte do G.E. Falcão Peregrino. Como sou a caçula, acabei frequentando o grupo quando ainda era bebê e por isso sou escoteira desde que me conheço por gente!
A foto, de quando eu era lobinha (~9 anos?), mostra as mulheres de 4 gerações da minha família no portal da nossa típica Festa de Confraternização. Minha bisavó Francisca que veio de navio do Japão quando era jovem e que já valorizava a educação; minha avó Isabel que até hoje apoia nas preparações das atividades, festas e bazares; minha mãe Cristina que foi chefe e presidente do grupo; e por fim eu, Christie, ainda uma lobinha que não sabia o quanto essas mulheres seriam uma inspiração na minha vida. ❤️
O movimento escoteiro proporciona a educação de jovens trabalhando em diferentes áreas de desenvolvimento: físico, afetivo, caráter, espiritual, intelectual e social. Para que se concretize, precisamos de adultos voluntários, seja trabalhando diretamente com os(as) jovens, em funções administrativas ou apoiando nas atividades e festas. Seja qual for o nosso papel, estamos sujeitos ao olhar das crianças e jovens, que percebem nossa forma de falar, nossos valores e a cultura do nosso grupo escoteiro. Por isso, quando temos bons exemplos de mulheres e homens trabalhando juntos, no qual as mulheres participam em igualdade, lideram e possuem as mais variadas funções, temos uma ótima forma de mostrar para todos(as) os(as) jovens que as mulheres são competentes e participam do movimento escoteiro da mesma forma que os homens.
Pode parecer algo óbvio, mas é só pensar: no seu trabalho, na política ou nos esportes, qual é o gênero que predomina com os cargos mais altos ou que possui mais visibilidade?
A desigualdade de gênero está presente em toda a sociedade e alguns de seus vieses também estão em nós, mesmo quando não percebemos. Sobre esse tema, tem dois vídeos curtos que gosto bastante e que valem a pena ver: um sobre como as crianças veem profissões; o outro aplicado ao mundo dos esportes feito pela ESPN.
Agora que chegamos nesse ponto, podemos aprofundar e pensar no que é possível fazer diferente no nosso dia a dia 😉
Para refletir em casa
Comece assistindo ao vídeo da Plan International Brasil: O Desafio da Igualdade. O que ele fez você pensar?
Em casa, meninos e meninas dividem e têm a mesma cobrança sobre tarefas? Ambos podem se expressar e se sujar da mesma maneira? Ambos têm acesso a brinquedos e brincadeiras inteligentes e criativas?
Essas são algumas perguntas que ajudam a pensar se estamos criando oportunidades iguais, sem cair em algum viés de gênero (ou seja, por ser de determinado gênero, é esperado que tenha uma certa característica como “meninos não choram”; “meninas estão sempre arrumadinhas”). Neste assunto, também gosto muito do comercial da Always que discute o que é fazer algo “como uma garota”.
Para refletir no escotismo
Em 2019, as mulheres correspondiam à 40% dos associados no Brasil. Quando pensamos em cada ramo, podemos ver as diferenças entre os gêneros:
Acesse o infográfico completo em: https://i0.wp.com/www.escoteirosba.org.br/wp-content/uploads/2021/01/1.1.1-Foto-Gra%CC%81fico-1-800×515-1.png?w=800&ssl=1
Se o escotismo proporciona uma educação igual para todos, porque ainda estamos vendo essas diferenças?
E no seu grupo escoteiro, como está a proporção de meninos e meninas nos ramos? E na equipe de adultos? Existem oportunidades para essa distribuição ser mais equilibrada?
Para mudarmos algumas dessas realidades, gostaria de compartilhar práticas que foram (e são) importantes no nosso grupo escoteiro:
- Discutir e conscientizar adultos e jovens sobre a temática da igualdade de gênero.
- Buscar equilíbrio de gênero: anos atrás no ramo lobinho, percebemos que estávamos em um cenário em que 1/3 das crianças eram meninas. Por isso, quando fazíamos a distribuição em equipes, era notável a diferença quando meninas faziam um par com outra menina. Quanto menos meninas juntas, menos queriam vir. Quisemos então balancear a entrada de meninas e meninos, buscando ações que ajudassem a gerar mais interesse de meninas pelo escotismo e também fizemos algumas mudanças em nossas atividades para reter mais as crianças. Ficamos muito felizes porque hoje estamos em um equilíbrio de 50%! Essa ação também ajuda a garantir que nas faixas etárias seguintes continuemos com uma boa proporção entre gêneros.
- Nas tarefas do dia a dia garantir que estamos prestando atenção para incluir meninos e meninas. Por exemplo, quando vamos hastear a bandeira, chamamos um par; quando discutimos algum assunto, asseguramos a contribuição de todos(as).
- Incluir nas comunicações uma linguagem mais inclusiva. Por exemplo, se você estiver falando sobre o ramo Sênior, poderia se referir aos jovens como “seniores e guias”; quando estamos em um grupo só de mulheres, podemos privilegiar a nos referir como escoteiras; ou mesmo quando falamos em “pais”, podemos transformar em “pais e mães” ou até abranger como “famílias”, pois existem diferentes arranjos familiares, incluindo pais ou mães sozinhas, casais de mesmo gênero ou até a guarda estar com algum outro familiar.
- Seja paciente! As pessoas têm contextos diferentes e a mudança é um processo em que as diferentes gerações podem se ajudar.
Entendo que a mudança pode gerar desconfortos, mas é preciso lembrar que o movimento escoteiro não é estático, assim como a cultura e o contexto de um lugar, e que deve refletir a realidade dos(as) jovens, muito mais do que dos adultos (então já comece a desapegar da famosa frase “na minha época…”).
Por fim, quero deixar um agradecimento de coração para todas as mulheres que fizeram parte da minha vida escoteira e mostraram que mulheres podem explorar o mundo, fazer mochilões, manusear ferramentas, se expressar, serem líderes e promotoras de mudanças. Aos homens, que continuemos a trabalhar em harmonia e possamos sempre criar diálogos. Tenho certeza que caminhando juntos estaremos criando um futuro melhor para nossos(as) jovens.
Agora sim, desejo um feliz dia das mulheres e muitas mudanças para os próximos 364 dias que estão por vir!